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TEXTO DOS CURADORES

CONTINUAREMOS ESPERNEANDO POR TODOS OS LUGARES!

Por Andreia Duarte e Ailton Krenak

Chegamos finalmente à criação do TePI como uma plataforma digital! Em função do ano trágico de 2020, quando estourou a pandemia de Covid-19, tivemos que adiar a realização do TePI no formato de uma mostra artística presencial, o que, frente ao abismo de tantas mortes, nos trouxe muitas dúvidas sobre como poderíamos realizar o projeto novamente depois de tantas tentativas.

Quem realiza ações culturais em um país como o Brasil – que vem construindo políticas históricas e atuais de desfalecimento da cultura, do direito dos povos indígenas e da negação da vida ambiental e plural – sabe o que é a persistência para construir um evento como o TePI. Não há outra palavra para dizer a não ser resistência, que, em nosso caso, está em uma luta pautada no cotidiano de nossas vidas. 

Podemos dizer que, se a militância nos une – um líder indígena como Ailton Krenak e uma artista não indígena que traz na vida o envolvimento com pessoas e comunidades do povo originário –, também estamos implicados na noção de que o lugar da criação está muito além de uma arte feita apenas para o mercado. Acreditamos na invenção como potência para emergir mundos diversos, abrindo a possibilidade de mostrar os sonhos que queremos na construção de outros tempos e espaços!

Nunca pensamos em trazer manifestações culturais originárias das comunidades e inseri-las como teatro. Foram anos de encontros que nos levaram a fincar as bases que sustentam este nosso movimento de apontar flechas para diferentes direções. Armas em formato de criação teatral que descartam qualquer dúvida no momento em que afirmam: Sim, os artistas indígenas demarcam suas identidades e lutas por meio de todas as linguagens artísticas, inclusive o teatro. 

No ano de 2018 realizamos de forma presencial o “TePI – Encontros de resistência”. Foram quatro encontros e peças de teatro sediados no Sesc Pompeia (SP), abertos ao público, que abordaram discussões sobre o conhecimento do corpo indígena e sua representatividade no teatro; a luta pautada pela exploração colonial e a relação ancestral da terra; mas também, sobre a percepção da arte como forma de resistência. 

Diante da efervescência digital que se deu na pandemia, hesitamos primeiramente em transpor o TePI para o formato de plataforma, sabendo do viés transformador que pode ser o encontro presencial próprio do teatro e com pensadores artistas indígenas. Quando optamos por esse formato foi pela possibilidade da continuidade, bem como pelo intercâmbio no âmbito nacional e internacional que uma plataforma como esta pode propiciar, chegando ao público, de maneira sensível, pelo conteúdo gerado e pela troca entre artistas de diferentes lugares do mundo. Por isso a importância do programa de Internacionalização, que é lançado nesta primeira etapa do TePI – Plataforma Digital. 

Recusamo-nos a apenas assistir à tragédia em ação, que vêm acabando com a Amazônia e com as vidas dos povos-rios, dos povos-florestas. Sabemos que existem muitos movimentos que, como o TePI, estão esperneando e colocando seu grito de “NÃO! Parem de acabar com o nosso planeta TERRA”. Se podemos ter a certeza de algo é que não vamos parar de construir alianças com todas as pessoas que passarem do nosso lado, por meio da arte, em prol da vida!